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“A exportação será uma das alavancas económicas da região”

Nas vésperas da realização do 1º Fórum Empresarial da Beira Baixa, dedicado à Internacionalização e Competitividade, o presidente da AEBB – Associação Empresarial da Beira Baixa, José Gameiro, explica os fatores críticos para o crescimento das empresas da região — das portagens à falta de mão-de-obra, da inovação às exportações.

Jornal do Fundão – Quais as principais áreas de intervenção da AEBB?

José Gameiro – Atualmente, a AEBB assenta a sua atuação na promoção e desenvolvimento das atividades económicas do distrito de Castelo Branco, considerando os domínios técnico, comercial e associativo, tendo ainda como desígnio a necessidade de assegurar uma participação de crescimento exponencial em matéria decisiva e programática no que diga respeito às empresas e região, trabalhando de acordo com uma estratégia de proximidade e de cooperação, de modo a tornar o tecido empresarial e a região cada vez mais competitivos e economicamente e socialmente sustentáveis.
O apoio à competitividade empresarial, é um eixo prioritário da atuação da Associação. A intervenção desta área de atividade está orientada para induzir nas empresas, direta ou indiretamente, dinâmicas que permitam responder com sucesso às novas exigências dos mercados, prestando informação e serviços técnicos de âmbito empresarial, desencadeando processos eficazes em áreas como a cooperação, formação, empreendedorismo, internacionalização, inovação e financiamento. O reforço da competitividade empresarial assenta sobretudo no desenvolvimento de serviços e projetos de apoio, na divulgação de informação e elaboração de candidaturas a sistemas de incentivos e outras formas de apoio ao investimento e financiamento.

– Quantos associados e quais os setores de atividade mais representados?

JG: Do universo dos 181 associados, o setor dos serviços representa 42%, seguido da indústria e do comércio, representando 25% e 17%, respetivamente. A restauração, construção civil e agricultura representam 15% e u Turismo apenas 1%.Já em termos de dimensão, o universo dos associados, é composto por 2% de grandes empresas, 8% de médias empresas, 32% de empresas de pequena dimensão, sendo que as micro empresas, representam um universo de 58%.
Em matéria de RH ativos, os Associados representarão cerca de 8 mil postos de trabalho.
Quanto a volumes de vendas, segundo apuramento empírico da AEBB, os Associados poderão representar um valor a rondar os 1.000 milhões de euros, em que as exportações poderão representar á volta dos 130 milhões de euros, ou seja 33% do volume de exportação da região.

-As portagens na A23 constituem um fator crítico para a competitividade das empresas, pensa que as soluções implementadas para reduzir custos para as empresas têm atenuado o problema?


JG: Obviamente que o custo da mobilidade, A23, A25 e não só, constituem um entrave considerável à competitividade das empresas. A construção destas vias de comunicação, que vieram favorecer os negócios na região, representou um avanço significativo nas empresas, até ao momento em que foram portajadas. Aliás a construção das Scut´s, em sobreposição com estradas existentes, nunca mereceu grande contestação, por não haver indicações de que mais tarde viessem a ser portajadas.
Será caso único na Europa, em que não haja circuitos alternativos de circulação, para quem não tem condições de suportar tamanho custo. Veja-se em Espanha as Autovias, em França os itinerários BIS, etc.
Mas também os custos da energia, são entraves significativos à competitividade das empresas. Alteraram-se as paisagens do interior, com grandes Parques Eólicos, sem que o território tenha tirado partido desses investimentos, nomeadamente com energia a preços mais acessíveis, para empresas. Uns quantos Parques Solares estão em marcha, em vários locais, sem que o valor dessa energia, produzida regionalmente, se faça refletir positivamente, nos valores aos consumidores empresariais.
Também as dificuldades de acesso á livre circulação de informação, nomeadamente no que respeita à cobertura regular de internet, nos territórios interiores. Hoje as comunicações móveis, acessíveis às empresas, são imprescindíveis e determinantes.

– A AEBB vai promover um Fórum Empresarial que tem como tema a internacionalização e competitividade. Estes são temas críticos para as empresas da região?

JG: São, efetivamente temas críticos para esta Região. Todos sabemos a pequenez do mercado nacional e todos temos bem presente, os efeitos da globalização. Portanto, se por um lado o mercado pequeno, constitui uma ameaça, por outro lado, a globalização constitui uma oportunidade.
Será, pois, na procura deste equilíbrio de forças e porque nos parece que a exportação, será uma das alavancas económicas da região que a Associação Empresarial faz uma aposta na promoção de encontros de exportadores e de importadores, aproximando assim as partes interessadas.
Temos um conjunto de empresas, algumas das quais presentes neste Fórum, que já deram passos importantes em matéria de internacionalização e já se especializaram, em métodos produtivos de aceitação no exterior.
É também esse aspeto, o da especialização, que queremos trazer a este Fórum, não só para reconhecer quem já está no caminho da exportação, como também proporcionar que esses empresários possam servir de exemplos aos empresários que queiram iniciar-se nessa temática da internacionalização.

Quais são as principais barreiras à internacionalização das empresas da região?


JG: Desde logo, e já referidos os custos de mobilidade. Qual o custo, para as empresas, da vinda das matérias-primas à Região? Em face dos custos de contexto, quanto é que as empresas têm que suportar, a mais, pela colocação dos produtos acabados nos clientes? Quanto é que as empresas terão que suportar para trazer clientes às unidades de produção e poder mostrar os processos produtivos?
Tem menos custos viajar de Lisboa ou Porto, a diversas capitais…, que da Beira Baixa, a Lisboa ou ao Porto, dentro do mesmo país.
Várias empresas da região, tomaram como preferencial, para momentos de exportação, o aeroporto de Madrid, em vez de Lisboa.
Algo está mal, quando estas equações se colocam nas empresas, que acabam por ser barreiras nacionais.

– O acesso a instrumentos de financiamento e crédito é um dos temas do Fórum. Pensa que a banca está a apoiar bem o esforço de internacionalização das empresas da região?


JG: Parece-me que as empresas que mostram bons resultados, sólidos e de compromisso com o futuro, não terão problemas de ajuda financeira.
Desde há algum tempo que os bancos, uns mais que outros, adotaram comportamentos de partilha e de análises diferentes sobre as empresas. De uma forma geral, os principais bancos criaram gabinetes internacionais e agem hoje como parceiros, e já não só com o mero interesse financeiro nas empresas.
É precisamente para mostrar essas valências financeiras, que estão ao serviço das empresas, que neste Fórum foram convidadas organizações do setor financeiro.
As empresas que estão neste momento no mercado, após a crise acentuada que atravessamos, no passado recente, creio que terão condições de sustentabilidade e crescimento.
Dos contatos que a AEBB tem vindo a desenvolver com diversas empresas da região, o grande constrangimento apontado e comum, não é a falta de financiamento, nem a falta de clientes, mas sim a falta de quadros, qualificados e outros. Até nos setores tradicionais, a falta de mão-de-obra regista défices consideráveis. E se nestes setores, chamados de tradicionais, a mão-de-obra nómada, imigrante, pode até resolver algumas situações particulares, sobretudo no setor agro, já na indústria o mesmo não acontece, por se tratar de empresas que carecem de um grande planeamento atempado e de um conjunto de garantias de produção, junto dos seus clientes, que não conseguem com uma utilização irregular de recursos humanos.

– Porque é que os empresários e outros agentes económicos devem ir ao Fórum Empresarial?

JG: Desde logo, por ser um momento excecional de reunião de pessoas, que poderão aprofundar conhecimentos sobre a Região. Queremos que este acontecimento, possibilite e permita a troca de experiências e ideias sobre a Região e sobre as empresas. Tanto este Fórum, como o Congresso de 2017, são momentos únicos que não se repetem com muita frequência.
São momentos de reunião de empresários, momentos livres de qualquer fação ou tendência política, mas momentos de grande relevância para as empresas.
Não são momentos de sombra, ou de tentativas de encobrimento de outras iniciativas similares. Sei que não é fácil reunir muitos empresários, em horário laboral, em face das obrigações profissionais. Sabemos também que existem constrangimentos ao nível da capacidade de mobilização dos Gestores Públicos do território, precisamente por estes eventos não terem a sua génese, nas fações políticas, quer sejam de apoio governamental, quer sejam da oposição institucional, que acabam muitas vezes por funcionar em certa sintonia e se confundirem entre ambas, no que concerne à falta de apoio a iniciativas independentes.
A AEBB teve o cuidado de em 2017, produzir um rol de conclusões, emanadas do Congresso, para a Região e terá esse mesmo cuidado, neste Fórum.
Veremos essas conclusões serem difundidas pela Região e não só.
A intenção é que saiam ideias válidas, ficando com cada um a interpretação, o reconhecimento e a adoção de medidas que daí resultem.